Então, "algo" te faz pensar que é uma boa ideia visitar os professores e amigos que você não vê há algum tempo. Depois de abraços e saudades, alguém te alerta para algo que pode mudar sua vida, caso você seja bom o suficiente para prestar atenção. Na mesma hora voltei pra casa.
Aquele susto correu mais rápido que meus olhos pela tela do computador.
"Mamãe, tenho que ir HOJE pra São Carlos!"
E começou a correria. Pega documento, pega histórico, pega Enem antigo pra fazer caso tivesse demora, pega toda a felicidade do mundo pra conhecer o local no qual sonho estudar.
Todas aquelas árvores me abraçavam de tal forma que deixavam tudo verde, e foram justamente elas que me mostraram o reflexo do que eu mais almejo, mais sonho ser: aquela aparência universitária, de pessoas que não se importam com o pensamento alheio e simplesmente se sentem livres para ser aquilo que creem ser, ou o que têm vontade de ser. Aquele jeito despojado que tanta gente critica e rejeita; pra mim, uma das formas mais genuínas de se sentir único, rodeado de pessoas iguais a você. Aquele jeito que inspira tanto "achismo" que nunca alguém imaginaria. Parecia que eu estava entrando no meu próprio sonho, daqueles que a gente se imagina "quando crescer" (mesmo ainda não me sentindo crescida).
Depois de todo esse entusiasmo passando como um filme na minha cabeça, veio a decepção e a culpa por não ser atenta, além da raiva (sem muita razão, como sempre) de algo que sozinha sou incapaz de mudar, principalmente porque não depende só de mim, mas de muitas situações socioeconômicas que não me cabem. O remédio era simplesmente voltar para casa, com o já conhecido sentimento de derrota de quando abrimos um papel e lemos "incapaz" ou "fracassado", quando na verdade está escrito "não convocado".
Nessas horas é que entendemos porque não nascemos sozinhos, já sabendo de tudo da vida. Nessas horas que nossos pais são a melhor coisa que já nos aconteceram. Nossos pais são nosso país, pelo menos é um dos lugares onde mais me sinto acolhida.
Passada tão grande antítese de sentimentos, encontrei minha velha conhecida; aquela que vai do peito pra boca, passando pela mente e arrepiando cada fio de cabelo, que me deixa completamente alheia a todos os meus problemas, minha válvula de escape. Essa que fica muito melhor quando cinco tornam-na insuperável.
Já cansada continuei encarando a rotina, como se nada tivesse acontecido; e foi aí que meu dia chegou ao ápice.
Nunca fui de muitas amizades femininas. Conto no dedo quais realmente valem a pena. Mas a experiência de pela primeira vez participar de algo como derramar vulnerabilidades foi tão reconfortante quanto o primeiro fôlego após um mergulho. Descobrir que nem tudo é futilidade, que você pode SIM estar certo sobre o que acha de si mesmo, que quem achava que te conhecia não sabia nada sobre você além de tomar como regra todas as exceções que fazia de errado. Nunca me senti tão feliz em estar errada acerca das minhas antigas concepções.
Já extasiada sem ao menos participar efetivamente, me veio a certeza de que o dom das pessoas, quando te alcança, faz um bem enorme. A paixão por uma ideologia, uma matéria que seja, simplesmente me transportou para outra época; tudo tinha sumido. Éramos eu, meu caderno e aquilo que sempre amei; aquilo que me deixei forçar a acreditar que não gostava, que era apenas um exagero de "paixonite".
Naquele momento pude sentir uma gota daquilo que sonhava ser - aquela que não se importava com o alheio, que só queria ser.
Meu mergulho parecia não ter fim, e agora vejo que não tem. O caminho traçado para mim não possui um ponto a mais do que é necessário, e muito menos alguma coisa colocada por acaso. Mais uma vez, a noção de que NADA é por acaso me trouxe a certeza do que quero. A imagem sempre esteve na minha cabeça, mas nunca pensei que esta seria tão tangível algum dia. E como é bom sentir tão perto o que eu sentia estar tão longe. Inexplicável.